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Desenvolvimento Infantil para Lev Vygotsky

21/03/2023

14 minutos de leitura

Desenvolvimento Infantil para Lev Vygotsky

Você já ouviu falar sobre Lev Vygotski? Hoje vamos conhecer um pouquinho mais sobre esse pesquisador e sobre sua teoria.

Já temos aqui no blog um texto sobre o Piaget que pode ser considerado uma teoria “oposta” a de Vygotsky. E aí, ficou curiosa?

Lev Vygotsky (1896-1934) nasceu na Bielorrúsia e viveu poucos anos (apenas 37 anos), mas teve uma vida muito produtiva no aspecto de pesquisas, publicando muitas obras de várias áreas, como críticas literárias e pesquisas sobre a psicologia. Teve sua primeira formação em direito, posteriormente se formou em medicina e fez pesquisas relacionadas ao desenvolvimento cognitivo. Ele nasceu em uma das famílias mais cultas da cidade. Além disso, viveu a Revolução Francesa.

Diferentemente de Piaget, este autor se preocupa com o professor, a escola e a intervenção pedagógica no ensino. Para ele, a escola é fundamental para o desenvolvimento infantil e para o funcionamento psíquico como um todo. Falaremos sobre a Mediação simbólica por instrumentos e por signos, a fim de compreender a teoria deste autor.

A Teoria

Segundo o autor, existem planos genéticos de desenvolvimento. São quatro entradas de desenvolvimento que juntas caracterizam o funcionamento psicológico do ser humano. Ou seja, o autor define quatro “parâmetros” de desenvolvimento que devem ser analisados, já que eles influenciam no desenvolvimento do indivíduo. São eles:
– Filogênese: história de uma espécie.
– Ontogênese: história de um indivíduo de determinada espécie.
– Sociogênese: a história da sociedade em que o indivíduo em questão está inserido.
– Microgênese: a história de cada processo psicológico.

Agora que você já tem uma introdução, vamos saber um pouquinho mais sobre cada um desses tópicos.

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Filogênese

A filogênese é entendida como a história de uma espécie, ou seja, são as limitações e possibilidades que a capacidade do organismo nos dá. Assim, nossa espécie (seres humanos) pode andar ereto, mas não podemos voar. Podemos destacar aqui um atributo do ser humano que é a plasticidade do cérebro, isto quer dizer que temos um cérebro flexível que é capaz de se adequar e adaptar ao meio. Isto acontece porque não somos tão “prontos” ao nascer.

Várias espécies nascem muito parecidas com os adultos (em termos de aparência física e capacidade cognitiva), enquanto nós demoramos vários anos até desenvolvermos o raciocínio e conseguimos fazer certas coisas como caminhar e falar. Desta forma, somos mais adaptáveis e vamos crescendo e nos desenvolvendo sofrendo influências do meio em que vivemos, e nos adequando a ele.

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Ontogênese

Ontogênese, por sua vez, é o desenvolvimento de um indivíduo de determinada espécie. Ou seja, é sua história de desenvolvimento individual, visto que cada indivíduo tem um desenvolvimento único. A ontogênese é fortemente ligada à filogênese, já que o desenvolvimento de um indivíduo da espécie depende do desenvolvimento da espécie (por exemplo, se a espécie não voa, consequentemente o indivíduo daquela espécie também não voará), assim, podemos dizer que a ontogênese é limitada pela filogênese (isto é correto por que o indivíduo de uma espécie vai se desenvolver de acordo com os padrões previstos para a espécie.

Ficou meio confuso? Então, vamos pensar que o desenvolvimento do ser humano é de uma forma (passa por um caminho e não outro) por conta das limitações do organismo (ele não voa, por que a espécie dele, no geral, não voa). Sendo assim, podemos destacar que a filogênese e a ontogênese dizem respeito ao determinismo biológico (ser humano determinado pela capacidade física).

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Sociogênese

A sociogênese pode ser chamada de história cultural. Aqui Vygotsky se preocupa com as formas de funcionamento cultural, já que de certa forma, isso influencia no desenvolvimento psicológico. Nós nos comportamos de acordo com a cultura que vivemos. Claro que cada indivíduo tem sua experiência individual e vê o mundo de sua forma, mas ainda sim, a cultura tem seu valor para o desenvolvimento. Assim, podemos dizer que a sociogênese é uma forma de determinismo cultural, já que diz que somos “moldados” até certo ponto pela cultura em que somos inseridos.

Para exemplificar melhor, na Índia a maioria das pessoas considera a vaca um animal sagrada, desta forma, comer carne de vaca não é algo popularmente aceito, enquanto no Brasil é normal comer o famoso churrasco. Com esse exemplo, podemos perceber como a culturas nos dois países são bem distintas e como isso influencia na forma de comportamento das pessoas desses países. Isso acontece no mundo todo, onde as culturas têm traços de personalidade. Mas perceba que não estamos que TODA a população da Índia considera a vaca um animal sagrado, mas sim A MAIORIA da Índia. Ou seja, para ser considerado um traço cultural, precisa ser um costume disseminado por determinada região, mas não necessariamente TODA A POPULAÇÃO é adepta.

A significação do mundo pela cultura tem dois aspectos, a primeira é que a cultura funciona como um “alargador” das possibilidades humanas, por exemplo, segundo a filogênese o homem não voa, mas aqui ele voa, pois criou o avião. A capacidade do organismo não mudou (filogênese), mas ele se adequou e expandiu suas possibilidades através da cultura. O segundo aspecto é como cada cultura organiza seu desenvolvimento, isto é, como cada cultura “olha” e explica o desenvolvimento, isso muda com o tempo e em determinadas regiões. Podemos destacar a “terceira idade” como uma nova fase do desenvolvimento (uma nova categoria criada culturalmente) que surgiu a pouco tempo, antes não se falava sobre a terceira idade. Logo, com o passar do tempo, vamos classificando e vendo o desenvolvimento de diferentes formas.

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Microgênese

O autor destaca a microgênese como uma forma de analisar determinados fenômenos mais de perto, assim, esse parâmetro se trata da história por trás de cada fenômeno psicológico. Quando falamos de “micro” , temos a intenção de destacar um foco, bem definido, em determinado fenômeno. Assim estamos delimitando a análise a fim de ter detalhes mais precisos.

Exemplificando, podemos analisar o “aprender a estalar os dedos”. Estamos delimitando a análise entre o não saber estalar os dados e o saber estalar os dedos, assim delimitamos a pesquisa a todo o processo que acontece entre o não saber e o saber. Então, entre espaço definido de tempo aconteceu algo que fez com que a criança aprendesse.

Portanto, aqui não podemos chamar de “determinismo” já que abre uma brecha para a individualidade de cada pessoa. Aqui analisamos a forma pessoal de cada um aprender e significar o mundo, percebemos a construção da singularidade da pessoa. Cada fenômeno tem sua história e cada pessoa tem um conjunto de várias histórias de fenômenos que faz cada ser humano ser único, visto que ninguém tem a história igual a de ninguém.

Você lembra que eu falei sobre a importância da intervenção pedagógica na teoria de Vygotsky? Vamos conversar um pouquinho mais sobre isso:

Segundo esse autor, nós nos relacionamos com o mundo através de mediadores, isto é a Mediação Simbólica.

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Mediação Simbólica

Nós começamos a utilizar símbolos como forma de nos auxiliar na resolução de um dado problema psicológico, tais como lembrar, comparar, planejar, etc. Essa capacidade surgiu de forma semelhante ao uso de instrumentos, mas no campo psicológico.

Entendemos por “mediação” como uma ideia de intermédio, algo entre uma coisa e outra. A mediação está entre o homem e o mundo, é o que permite a relação entre o homem com o mundo. Essa mediação é feita através de instrumentos (físicos) ou de signos (significado, simbologia).

  • Mediação simbólica por Instrumento: o ser humano se relaciona com o meio através de instrumentos físicos, por exemplo, para cortar o pão (ação ativa sobre o mundo) usamos uma faca (instrumento de mediação). Então, podemos dizer que “instrumento” tem o significado de “ferramenta”.
    Mediação simbólica por signos: são formas posteriores de mediação, já que surgem depois da mediação por instrumento. Podemos considerar como uma mediação de natureza semiótica, isto é, através de símbolos. Entendemos por função semiótica a capacidade do ser humano de criar imagens mentais. Assim, a mediação entre sujeito e objeto de conhecimento não acontece de forma concreta, mas sim, simbólica (através de símbolos).
  • Na mediação simbólica por símbolos, o autor considera que há uma forma de signos com existência concreta, ou seja, mesmo que sejam representações simbólicas existem no mundo concreto. Citamos como exemplo, as placas de banheiro feminino ou masculino, onde há uma ilustração (no mundo concreto) que simboliza/indica que ali há um banheiro feminino (é uma forma de simbologia, já que é uma forma de comunicar algo usando signos que não são necessariamente um banheiro). Ainda que seja algo concreto e visível, não é de natureza instrumental (não é uma ferramenta, já que não age concretamente nas coisas).
  • Nessa perspectiva, temos também o plano totalmente simbólico que são mediadores semióticos dentro do sistema psicológico. A função semiótica é característica do ser humano que tem a possibilidade de criar imagens mentais, que são representações do mundo dentro de mim. Isso é o que me permite lembrar (o passado) e ter perspectiva de futuro. Por exemplo, quando uma criança coloca o dedo no fogo, ela vai queimar o dedo e sentir dor (relação não mediada, ou seja, não tem uma ferramenta entre o dedo e o fogo, e não tem mediação simbólica, já que ela não sabe o que vai acontecer). Na próxima vez, quando ela ver o fogo ela não chegará perto (pois ela vai lembrar da dor que o fogo gera nela, quando ver ou sentir o calor), isso é uma relação mediada pela informação (simbólica). Mas é importante destacar que o ser humano não aprende apenas com a própria experiência, mas também com a dos outros. Então, quando a mãe fala “não faz isso por que machuca” a criança aprende que aquilo gera dor, mesmo sem ter uma experiência com aquela situação. Essa forma de aprender com a experiência dos outros é essencial para o desenvolvimento histórico, visto que isso permite um conhecimento acumulado, sem precisar começar de novo (as experiências para aprender) a cada geração.

Dito isto, podemos conversar um pouco sobre o pensamento e a linguagem.

Pensamento e Linguagem

Quando nascemos, temos a chamada inteligência prática. Nesse período desenvolvemos apenas a linguagem. Quando falamos de linguagem, nos referimos a forma de se expressar, assim, no bebe o choro é uma forma de expressão. As espécies, em geral, tem suas formas de se expressar, sem a necessidade de criar signos. Mesmo as espécies mais primitivas passam informações por indivíduos da mesma espécie. O pensamento não é algo que nasce pronto, ele é adquirido com o desenvolvimento.

Nascemos com a linguagem e o pensamento separados, o que é a inteligência prática. Assim como outros animais, quando somos bebês, temos a capacidade de resolver alguns problemas práticos, como “preciso de um banquinho, para conseguir alcançar algo em uma estante”.

Depois, com o desenvolvimento da linguagem (sendo considerada, aqui, a linguagem como o idioma, a língua falada), juntamos o pensamento com a linguagem, formando a inteligência simbólica.

Para o autor, a criança se apropria da linguagem falada, ou seja, o processo de aprendizado é de fora para dentro (ao contrário do pensamento de Piaget). Para Vygotsky, a fala acontece pela interação da criança com o mundo (ouvir os outros falarem).

Os signos são construídos culturalmente, e assim desenvolve a capacidade de representação simbólica em uma cultura (a cultura fornece material para a criança desenvolver a capacidade de representação) e isso acontece também na língua (idioma), que é o principal instrumento de representações humanas.

Segundo Vygotsky, há duas funções básicas da linguagem: a comunicação e o pensamento generalizante.

Comunicação

Sendo esta a primeira função da linguagem e a mais primitiva, visto que é mais primitiva (presente em outros animais), caracterizada pela troca de mensagens entre indivíduos da mesma espécie.

Pensamento Generalizante

Nessa função da linguagem destacamos a união entre pensamento e linguagem. Quando falamos, nós classificamos o mundo em categorias. Então, quando eu nomeio que “aquilo é um cachorro” estou classificando o mundo em duas grandes categorias, tudo o que se caracteriza como cachorro e tudo aquilo que não é cachorro. Assim, o uso da linguagem implica em uma visão generalizante do mundo. Daí surge a pergunta: A palavra é fenômeno da fala ou do pensamento? Em psicologia, entendemos que o significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito, sendo que colocar significado é um fenômeno do pensamento.

Aquisição da Linguagem

Seguindo a mesma linha teórica, podemos afirmar que a linguagem é produto da interação da criança com o meio que ela está inserida, assim o aprendizado vem de fora para dentro (aprende com o meio e internaliza).

Classificamos a fala em fala socializada e discurso interior. Nessa perspectiva, chamamos de fala socializada como a conversa “fora da criança” o que se passa ao redor dela, então a criança conversa mas ainda não tem um raciocínio lógico. Em seguida, como o estágio mais avançado, vem o discurso interior que é a fala interiorizada, nós pensamos de acordo com o idioma de nossa cultura.
Nesse processo de “pegar a linguagem que é do outro” e internalizar ocorre a fala egocêntrica, que consiste em elementos da fala social (falar em voz alta, assim como os adultos), mas com a função do discurso interior (falar para mim, com intuito de resolver problemas), podemos considerar como a transição entre um estágio e o outro.

Desenvolvimento e Aprendizagem

Como já mencionamos, o desenvolvimento ocorre de fora para dentro. Assim, aprender é importante para o desenvolvimento humano, nós nos desenvolvemos por que aprendemos. Então, podemos dizer que o desenvolvimento é um caminho aberto, já que não sabemos para onde ele vai dar (cada um se desenvolve de uma forma).

Na aprendizagem, ele destaca o brincar simbólico, que consiste no brincar de fazer de conta, é como uma mímica do mundo adulto, onde a criança vai estar brincando de “casinha”, brincar de “ser professora”, entre outras brincadeiras e nessas brincadeiras estará regida por um mundo de regras daquela brincadeira. Esse tipo de brincadeira promove o conhecimento, já que a criança se relaciona com o significado e não com o objeto em si (por exemplo, a panelinha com pedrinhas é uma sopa).

Em sua teoria, vale destacar o conceito de zona proximal, que diz respeito à onde o desenvolvimento está acontecendo, é algo que a criança ainda não aprendeu, mas está em processo de maturação, que ela consegue fazer com auxílio, mas ainda não faz sozinha. Esse conceito não é algo que se pode medir, mas auxilia na compreensão da aprendizagem. Cada criança tem uma zona proximal diferente. Chama a atenção para o fato que esse conceito olha para o que a criança ainda não aprendeu, mas está próxima a aprender. É nesse período que a ação educacional deve ser aplicada, então o conteúdo não deve ser nem algo muito fácil (que ela já saiba) nem algo muito difícil (que está longe do alcance).

O nível de desenvolvimento real é caracterizado pelo olhar retrospectivo, ou seja, analisa o que a criança já sabe e o nível de desenvolvimento potencial é o que a criança ainda não sabe, mas está próxima de aprender.

Assim, podemos destacar a intervenção pedagógica, já que este autor destaca a importância do outro no aprendizado. O sujeito se relaciona de forma ativa com o meio (ambiente estruturado pela cultura) e com a intervenção ativa das outras pessoas.

Muita informação, não é?

Ficou com alguma dúvida, nos pergunte nos comentários!

Te espero no próximo post.

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