Olá, mamães!

Hoje vamos falar sobre a psicomotricidade, entender como surgiu, alguns teóricos e os principais conceitos.

Por mais que a palavra pareça estranha, a psicomotricidade é o ato de relacionar-se através da ação. Assim, o indivíduo toma consciência do corpo, diz-se que é a união de várias esferas, como a esfera cognitiva, afetiva e relacional. Podemos dizer então que a psicomotricidade visa o desenvolvimento integral da pessoa.

Basicamente, a psicomotricidade se refere às relações e à expressão através do movimento voluntário, isto é, acontece nos músculos estriados esqueléticos (que são os responsáveis pelos movimentos voluntários, aqueles que temos controle).

Podemos afirmar que a psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento, em relação com seu mundo interior e exterior.

O intuito da psicomotricidade é a educação, a reeducação ou a terapia, dependendo de cada caso.

História

As bases da psicomotricidade começaram a muito tempo atrás, passando por alguns conceitos básicos, construindo a psicomotricidade como área do conhecimento e chegar até hoje.

• Platão (428 a.C) diz haver uma separação entre corpo e alma, seguindo essa ideia, o corpo é um lugar de transição enquanto a alma é imortal. Desta forma, é preciso mover e alimentar o corpo, constituindo o primeiro elemento da educação do corpo e da alma.
• Aristóteles (384 a.C) defende que o corpo é moldado pela alma, assim o corpo é algo material e o que dá forma à ele é a alma. Nessa linha, ele aponta a ginástica como forma de desenvolver o espírito, com movimentos não muito cansativos, mas já estimulando o movimento. Podemos dizer que Aristóteles deu início ao pensamento psicomotor.
• René Descartes (1596-1650) trás a ideia da dicotomia do corpo e alma, ou seja, há uma oposição entre o corpo e alma, sendo que o corpo é um material não pensante e a alma é pensante por excelência. Nessa ideia, a alma não participa naquilo que pertence ao corpo.

Já no século XIX (século 19) surgem mais pesquisas e embasamento teórico para a psicomotricidade:

• Dupré foi um neurologista que definiu a síndrome da debilidade motora e afirmou que a motricidade e a inteligência estão ligadas. Definindo as sincinesias como movimentos voluntários que acompanham a ação voluntária, as paratomias como a incapacidade de relaxar a musculatura e as inabilidades que não são causadas por danos ou lesões extrapiramidais (esses danos, quando presentes causam movimentos involuntários anormais, entre outros problemas motores).
• Henry Wallon defende a ideia de que o movimento, o pensamento e a linguagem não podem ser separados, segundo o autor o movimento é o pensamento em ato.
• Camus relaciona a motricidade ao caráter, ao afeto, à emoção, ao meio e aos hábitos.
• Piaget fala sobre as inter-relações entre a psicomotricidade e a percepção, destaca a importância do período sensório motor e da motricidade, antes mesmo da aquisição da linguagem no que tange ao desenvolvimento da inteligência (chamada neste período de inteligência prática, através da ação). Considera-se inteligência como uma adaptação ao meio em que se está inserido e isso só é possível através da manipulação dos objetos e a modificação dos reflexos primários.
• Ajuriaguerra redefine o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome de propriedades particulares e destacando que transtornos psicomotores oscilam entre neurológicos e psiquiátricos.

Além disso tudo, em 1935 iniciou a prática psicomotora por diferentes técnicas da neuropsiquiatria e reeducação psicomotora e em 1942, na Alemanha, surgem métodos de relaxação e desenvolvimento sensório motor. Em 1996, Le Boulch implementou a educação psicomotora na escola.

Claro que há muitas outras contribuições históricas, mas deixamos aqui algumas das mais importantes para entender a história por detrás da psicomotricidade.

Objetivos

A prática da psicomotricidade visa desenvolver o ser humano como um todo, abrangendo as esferas intelectuais, afetivas, sociais/relacionais e motoras. Para elaborar uma conduta consciente através da experiência a fim de organizar e mobilizar as funções em todas as dimensões.

A psicomotricidade trabalha com o brincar simbólico, definido por Piaget e destacado como início da verbalização (aquisição da linguagem) , você pode ler mais sobre no texto sobre Desenvolvimento para Piaget, aqui do Blog.

Além de tudo isso, estimula o desenvolvimento global da personalidade e adaptação social, psíquica e motora.

O Desenvolvimento Humano

Para entendermos a psicomotricidade precisamos compreender o desenvolvimento humano. Alguns fatores influenciam no desenvolvimento da criança.

Existem variáveis, como o aspecto genético (impulso para o desenvolvimento), fatores neuroendócrinos e outros fatores relacionados ao meio.

Dos 18 até os 24 meses as ações metabólicas dos hormônios e sistema límbico (hipotálamo, córtex cerebral e hipófise) estão a todo o vapor para o desenvolvimento da criança.

O desenvolvimento psicomotor é gradual e contínuo, sendo que no recém nascido há reações subcorticais (ou seja, reações que provêm principalmente dessa região do cérebro) e reações reflexas coordenadas pelo cerebelo. No estágio simples há reflexos hereditários para adaptação que são adquiridos ou aprendidos.

A evolução do bebê vai no sentido céfalo-caudal, proximal-distal e centro-extremidades. Veja a figura para entender melhor:

Além disso, o processo mielinogenético, isto é, a mielinização dos neurônios que conectam áreas do neocórtex, faz com que o movimento voluntário seja possível. Em outras palavras, os neurônios, que são as células que fazem as conexões nervosas, recebem um revestimento chamado de bainha de mielina. Esse revestimento faz com que os estímulos nervosos (informações) passem de uma região para outra de forma mais rápida e por isso o bebe começa a ter a capacidade de se movimentar voluntariamente, ou seja, controlar seus movimentos aos poucos.

Organização motora de base – Vitor da Fonseca

Segundo o autor Vitor da Fonseca, existem três fases no desenvolvimento motor de base, são eles:

1° Fase: Corresponde à estruturação tônica de fundo, a organização proprioceptivas (explicadas no decorrer do texto), desaparecimento das reações reflexas primitivas, organização receptiva e vestibular e consiste na organização motora de base. Isso ocorre por conta da maturação mesencefálica e medular.

2° Fase: Organização do plano motor, começa a surgir os primeiros movimentos automáticos, por conta da maturação do Tálamo (parte do encéfalo)

3° Fase: A Automatização, noção de espaço, desenvolvimento da linguagem, aperfeiçoamento sensório motor, expressão motora mais ajustada e segura, motricidade aprendida e inteligente.

Principais conceitos

Dentro da psicomotricidade há alguns conceitos essenciais que precisam ser esclarecidos, já que costumam ser os tópicos principais no desenvolvimento e podem ser estimulados em casa (veremos mais sobre isso em breve aqui no Blog).

Corporeidade

Basicamente, trata-se da relação do corpo com o mundo e com os outros indivíduos e isso constitui uma condição básica para a qualidade de vida.

Mas cuidado, ser corporificado significa fazer parte de um corpo maior, ter relações corporais adequadas.

Esquema corporal

Diz respeito à representação do corpo, da percepção que a pessoa tem de si mesma. Ou seja, é a resultante mental que alguém tem de seu próprio corpo, como percebe seu próprio corpo no espaço. Se reduz, segundo Levin (2000), a compreensão do corpo à pura mecânica motora.

Assim, podemos analisar as informações sensoriais sobre o corpo que atuam no córtex somestésico ou também chamado de somatossensitivo. Recebemos as informações por meio dos sentidos que podem ser classificados como:
Exteroceptivos: são os sentidos que captam as informações do meio, aqueles que aprendemos na escola, são o tato, paladar, audição, visão e olfato.
Proprioceptores: podem ser subdivididos em conscientes e inconscientes, sendo os conscientes a percepção da posição do corpo, a atividade muscular e articular e os inconscientes a atividade reflexa.
Interoceptores: são as sensações e percepções de dentro (viscerais), por exemplo a fome e a sede.

Com o desenvolvimento a criança vai, aos poucos, explorando e percebendo o próprio corpo.

Esse conceito pode ser trabalhado em pessoas que sofrem de dores em membros fantasmas, isto é, pessoas que perderam determinadas partes do corpo mas afirmam sentir dor nessas regiões.

Imagem corporal

Essa definição é facilmente confundida com a definição anterior (esquema corporal). A imagem corporal se difere do esquema corporal, já que a imagem corporal aborda tanto os conceitos de esquema corporal quanto fatores mais inconscientes.

A manifestação da imagem corporal se dá na representação que a pessoa faz de si mesma. Para poder representar, a pessoa precisa sentir o seu corpo. Então, a imagem é o resultado da vivência e experiência que a pessoa tem com seu corpo.

A imagem corporal é influenciada pelos outros, numa troca constante. A imagem corporal, como dito anteriormente, é a representação de si mesmo, enquanto a corpolatria é caracterizada pela preocupação excessiva de determinado indivíduo quanto ao seu corpo.

Nessa linha, podemos destacar a bulimia, a anorexia e outros distúrbios alimentares provenientes da distorção da imagem corporal.

Estruturação espaço-temporal

Aqui falamos sobre a orientação da criança no espaço (ambiente) e no tempo. Nesse sentido, o espaço é a estrutura do mundo exterior, do mundo material. Sendo a tomada de consciência do próprio corpo no espaço/meio em que está inserido. Iniciando com a percepção fragmentada do espaço, coordenação óculo manual, seguindo para a percepção projetiva e abrangente do espaço.

No que tange à organização temporal, é a noção de cronologia, sequência, duração de uma atividade. É a capacidade de se organizar em uma sucessão de acontecimentos.

Ritmo

Faz parte da estruturação temporal, consiste em uma adaptação ao tempo, noção de ordem, velocidade, sucessão, duração e alternância.

Distância relacional

Podemos subdividir em física e afetiva, isto é, a distância relacional física corresponde à distância de um objeto até o indivíduo, a distância entre duas pessoas no sentido material. Enquanto a distância relacional afetiva está vinculada com o carácter emocional, o quão envolvido afetivamente com determinada pessoa ou objeto.

Lateralidade

A lateralidade é a dominância ou preferência por determinado membro ou receptor. De forma prática, uma pessoa que escreve com a mão direita é destro, e quando a preferência é para membros esquerdos é canhoto.

Quando falo de membros ou receptores que enfatizam que a dominância lateral não é apenas “escrever com a mão direita e chutar uma bola com o pé direito”, normalmente isso acontece também com os receptores de estímulos externos, como por exemplo, preferência por um dos ouvidos.

A lateralidade é definida por homogênea, quando as preferências estão todas em um único lado, cruzada, quando algumas são do lado direito e outras do lado esquerdo e o ambidestro que é quem tem pouca preferência.

A lateralidade interfere diretamente no desenvolvimento neural, sendo assim, ter a lateralidade bem definida é essencial para realizar atividades que exigem coordenação motora.

A lateralidade é uma predisposição do organismo, é importante não induzir a criança a pegar com uma das mãos, mas deixar o objeto em sua frente para ela mesma definir com qual das mãos pegar.

Além disso, a lateralidade é influenciada pelo meio e pela genética.

Função tônica

Primeiramente, tônus é o equilíbrio entre tensão e relaxamento. Quanto mais equilibrado o tônus, mais estável é o comportamento e melhor é o equilíbrio psicomotor.

O tônus é importante no desenvolvimento da personalidade, sendo que a excitação extrema é considerada como um temperamento colérico e a facilmente relaxada é melancólica e inibida.

Todo final de sessão de psicomotricidade deve ser em relaxamento, primeiro global depois segmentário (mais específico).

Com isso, você já tem uma boa idade de o que é a psicomotricidade e porque é tão importante.

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E aí já sabe quais os conceitos estudados podem ser associados aos brinquedos JK?